Revirando papéis antigos, encontrei este poema de um grande amigo, Wilson José, que lecionava Filosofia na mesma época em que eu lecionava História
. A poesia, de 1999, era uma ode ao Brasil que estava prestes a completar 500 anos!
PARADOXO
Ao 500 anos de país chamado Brasil
Parte de mim é
imenso sertão,
Outra parte
grande oceano.
Minha fome é
interrogação,
Metade de mim,
grito profano.
Sou duas faces
de um rosto
Que hora preza
ser, outra o ter.
Uma face é
miséria, desgosto,
Outra, consumo
moda, prazer.
Fruto de
enlatada cultura,
Sou filho
preza o ser, outra o ter.
Sou mãe-pátria
sempre à procura
do culpado
desta sorte atroz.
Sou aquela
prostituta jovem
Que abre as
pernas e mostra as tetas
a qualquer um
que ao seu encontro vem
sugar do peito
as últimas gotas.
Metade de mim
adormece
Embriagada em
esplêndido berço.
Metade outra,
ovelha sem messe,
peleja em
continhas do terço.
Sou gigante da
natureza,
Rico, forte,
belo, tropical.
Mas sou cara
feia surpresa
ante o sistema
injusto e mau.
Ipiranga! Não
ouvi o seu brado!
E alguns
cantam-no retumbante!
Morreu à velha
utopia abraçado
sem liberdade,
flor pujante!
Parte de mim é
doce euforia
quando do
futebol se versa.
Parte outra,
angústia em demasia
se na rua um
mendigo atravessa.
Parte mim,
signo de tudo,
outra parte,
sinal de nada!
Sou assim,
vestido ou desnudo,
peregrino em
longa jornada!
Meu nome!
Ainda queres ouvi-lo?
BRASIL
TERR’ADORADA GENTIL!
Poesia em
versos, sem estilo!
Incógnita que
sempre existiu!
Wilson José,
Belo Horizonte, 22/02/1999
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