sexta-feira, 7 de março de 2014

Paradoxo

  Revirando papéis antigos, encontrei este poema de um grande amigo, Wilson José, que lecionava Filosofia na mesma  época em que eu lecionava História

. A poesia, de 1999, era uma ode ao Brasil que estava prestes a completar 500 anos!


PARADOXO
Ao 500 anos de país chamado Brasil

Parte de mim é imenso sertão,
Outra parte grande oceano.
Minha fome é interrogação,
Metade de mim, grito profano.

Sou duas faces de um rosto
Que hora preza ser, outra o ter.
Uma face é miséria, desgosto,
Outra, consumo moda, prazer.

Fruto de enlatada cultura,
Sou filho preza o ser, outra o ter.
Sou mãe-pátria sempre à procura
do culpado desta sorte atroz.

Sou aquela prostituta jovem
Que abre as pernas e mostra as tetas
a qualquer um que ao seu encontro vem
sugar do peito as últimas gotas.

Metade de mim adormece
Embriagada em esplêndido berço.
Metade outra, ovelha sem messe,
peleja em continhas do terço.

Sou gigante da natureza,
Rico, forte, belo, tropical.
Mas sou cara feia surpresa
ante o sistema injusto e mau.

Ipiranga! Não ouvi o seu brado!
E alguns cantam-no retumbante!
Morreu à velha utopia abraçado
sem liberdade, flor pujante!

Parte de mim é doce euforia
quando do futebol se versa.
Parte outra, angústia em demasia
se na rua um mendigo atravessa.

Parte mim, signo de tudo,
outra parte, sinal de nada!
Sou assim, vestido ou desnudo,
peregrino em longa jornada!

Meu nome! Ainda queres ouvi-lo?
BRASIL TERR’ADORADA GENTIL!          
Poesia em versos, sem estilo!
Incógnita que sempre existiu!


Wilson José, Belo Horizonte, 22/02/1999

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