sábado, 29 de março de 2014

A Arte da Felicidade

     "A felicidade não depende do que acontece ao nosso redor e sim do que acontece dentro de nós; a felicidade se mede pelo espírito com o qual nós enfrentamos os problemas da vida. A felicidade é um assunto de valentia; é tão fácil sentir-se deprimido e desesperado. A felicidade não consiste em fazer sempre o que desejamos, mas sim em querer tudo o que fazemos. A felicidade nasce ao colocarmos nossos corações em nosso trabalho e ao fazê-lo com alegria e entusiasmo. A felicidade não tem receitas; cada um cozinha com o tempero da sua própria meditação. A felicidade não é uma pousada no caminho; mas uma forma de caminhar pela vida." 

Roger Patrón Luján



sexta-feira, 28 de março de 2014

Poema para a Exorcista

Hoje é aniversário do poeta peruano Mario Vargas Llosa, que completa 77 anos de vida. Para celebrar, um de seus poemas, Poema Para a Exorcista, escrito na cidade de Nova Yorque em novembro de 2001:


Poema para a Exorcista

A minha vida aparece sem condão e
monótona
aos que me vêem
no trabalho árduo da oficina
em manhãs apuradas.
A verdade é muito distinta.
Cada noite eu saio e discuto
contra um espírito malévolo
que, se valendo de
máscaras - cão, grilo,
nuvem, chuva, vagabundo,
ladrão - trata de
se infiltrar na cidade
para estragar a vida humana
semeando
a discórdia.
Apesar dos seus disfarces
sempre a descubro
e a espanto.
Nunca conseguiu enganar-me
nem vencer-me.
Graças a mim, nesta cidade
ainda é possível
a felicidade.
Mas os combates noturnos
deixam-me exausta e ferida.
E para compensar a minha
guerra contra o inimigo,
peço uns restos
de afeto e de amizade.

domingo, 23 de março de 2014

EU SÓ TENHO OLHOS PARA VOCÊ

   "Havia uma garota cega que se odiava pelo fato de ser cega! Ela também odiava a todos aqueles que a cercavam, exceto o seu namorado! Um dia, ela disse que se pudesse ver o mundo, ela se casaria com seu namorado. Em um dia de sorte, alguém lhe doou dois olhos! Então, seu namorado lhe perguntou: - Agora que você pode ver você se casará comigo? A garota ficou chocada quando viu que seu namorado era cego! Ela disse: - Eu sinto muito, mas não posso me casar com você porque você é cego! O namorado, afastando-se dela, ainda com o coração transbordando de amor em forma de lágrimas, de lágrimas que ele não mais podia chorar por estar cego, disse-lhe: - Por favor, apenas cuide bem dos meus olhos. Eles eram muito importantes para mim!



   Nunca despreze quem ama você...!!!
   Às vezes as pessoas fazem certos sacrifícios e nós nem ligamos..."

sexta-feira, 21 de março de 2014

PRECE SUFI*

   Ó Deus, quando presto atenção às vozes dos animais, ao ruído das
árvores, ao murmúrio das águas, ao gorjeio dos pássaros, ao zunido
do vento ou ao estrondo do trovão, percebo neles um testemunho da tua unidade; sinto que tu és o supremo poder, a omnisciência, a suprema sabedoria, a suprema justiça.
  Ó Deus, reconheço-te nas provas por que estou a passar.                   Permite, ó Deus, que a tua satisfação seja a minha satisfação.           Que eu seja a Tua alegria, aquela alegria que um Pai sente por um filho. 
   E que eu me lembre de Ti com tranquilidade e determinação, mesmo quando é difícil dizer que Te amo.

*Sufismo 
Não há distinção entre Sufismo e Islamismo. Sufis são muçulmanos que buscam empenhar-se em suas comunidades, a viver os ideais islâmicos em sua inteireza. 
 

Hajj Sheikh Muhammad Ragip al-rahi 


sexta-feira, 14 de março de 2014

Fernando Pessoa – Uma Quase Autobiografia (3ª Parte - Final)

 (Continuação)


     Não menos importante, já no Ato IV, Cavalcanti dedica um capítulo inteiro ao hábito etílico do poeta lusitano, “A espantosa lucidez da bebida.” Começa o capítulo com o subtítulo: Um irresistível gosto pelo álcool; e já na primeira linha escreve: “É como se houvessem nascido um para o outro”. Ao chegar em casa, por vezes se fingia de bêbado para irritar a irmã Teca. O poeta português tinha predileção pelos vinhos de Lisboa: alguns brancos ou tintos de mesa, preparado a partir da uva moscatel. De acordo com carta de Ophélia, ele apreciava também o vinho de madeira. No entanto, seu vinho preferido era outro: as “garrafas daquele vinho  do Porto que ninguém consegue comprar”.
   
Fernando Pessoa aos 40 anos de idade

  Aprecia ainda o absinto ( que logo larga devido aos problemas gástricos que lhe infringia) e o conhaque, mais conhecido em Portugal como Brandy; porém, preferia o bagaço, ou bagaceira, uma espécie de aguardente de uva. “Ah, bebe! A vida não é boa ou má”. A poesia e o álcool, nele, sempre andaram juntos.
     Todas as manhãs, ainda em jejum, tomava um cálice de vinho no caminho do trabalho; ao entardecer, retornando do serviço, tomava um cálice de conhaque; e em seguida, enchia uma garrafinha preta com aguardente para a noite. Alguns de sues amigos no trabalho, diziam que vez ou outra Pessoa se levantava no meio do expediente para tomar uma dose de aguardente. Todos os dias, durante o almoço, sempre tomava uma garrafa de vinho.
      

Tomando um cálice de vinho

      Todo este abuso com as bebidas teria um efeito drástico em Pessoa; a começar pelo delirium tremens, desencadeando num processo que o levaria à morte prematura em 1935, aos 47 anos de idade, sem o devido reconhecimento por parte de seus compatriotas.  A causa mortis teria sido provavelmente uma cirrose hepática ou uma pancreatite.
      É levado ao hospital São Luis dos Franceses, onde falece numa tarde de sábado. As freiras do hospital ligam para Ophélia Queiroz, cientes da relação dela com o poeta. Na quarto onde jazia Pessoa, as freiras deixam Ophélia a sós com o ilustre defunto. Ophélia põe a destra em sua cabeça e estremece; coloca a mão direita do morto entre as suas e sussurra palavras em seu ouvido inerte. Depois, para que ninguém soubesse dessa despedida, fala que recebeu a notícia através de um sobrinho, Carlos Queiroz. Segundo ela, então, “levei a mão à cabeça, dei um grito, chorei muito, por muito tempo”.
     O corpo de Fernando Pessoa foi velado na Capela do Cemitério dos Prazeres, no domingo, no dia primeiro de dezembro. Na manhã seguinte, às 11 horas o cortejo fúnebre parte para levar o corpo do poeta para o “túmulo raso do Cemitério dos Prazeres”. Vários amigos acompanharam o sepultamento.
     

Sua última foto, aos 47 anos.
      
Em 1985 os restos mortais de Fernando Antonio Nogueira Pessoa, 50 anos após sua morte, foram transferidos para o Panteão Nacional dos Jerônimos, cumprindo-se o que falara Jorge de Sena em 1954: “O país se lembra de lhe dever um túmulo ao lado dos grandes da pátria”.
     Assim, no claustro desse Mosteiro de Santa Maria de Belém, aos pés do Tejo, está o solitário túmulo de Pessoa. Em usa lápide está o epitáfio: Fernando Pessoa, 1888-1935; e em baixo, os versos:

Não basta abrir a janela
Para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego
Para ver as árvores e flores.

20/04/1919 Alberto Caieiro

Não: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

1923 Álvaro de Campos

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes. 
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.


14/02/1933 Ricardo Reis

   Amigos leitores; abaixo deixo dois sites que fazem uma crítica ao livro de Cavalcanti, para quem quiser saber mais:

http://ipsilon.publico.pt/livros/critica.aspx?id=305399

//www.blogger.com/blogger.g?blogID=5542520736526928833#editor/target=post;postID=7483741951312829143;onPublishedMenu=allposts;onClosedMenu=allposts;postNum=0;src=link
   

quarta-feira, 12 de março de 2014

Fernando Pessoa – Uma Quase Autobiografia (2ª Parte)

(Continuação)


      Fernando Pessoa, apesar da figura soturna, possuía alguns amigos que despontavam para as artes como ele. Muitos deles, tratados como precursores do modernismo em Portugal colaboravam com a revista fundada por Pessoa, o Orpheu. Os melhores desenhos de Fernando Pessoa são de obras de (José Sobral de) Almada Negreiros (1893-1970) mulato “espontâneo, rápido” e de um “brilhantismo e inteligência mito e muita – eis o que está fora de se poder querer negar.” Havia ainda (Guilherme de) Santa-Rita Pintor, Miguel Torga e o melhor amigo, o também poeta, (Mário) Sá-Carneiro, que se mataria em Paris no ano de 1916 aos 25 anos de idade.
    



      Nas próximas 200 páginas do livro, no Ato II, Cavalcanti discorre sobre os heterônimos de Fernando Pessoa.  Primeiro, nos fala do seu estilo literário para depois penetrar de fato, nos heterônimos, a partir dos três principais e mais conhecidos: Alberto Caieiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. É mister relembrar, que os heterônimos são pessoas imaginárias a quem se atribui uma obra literária, com “autonomia” de estilo em relação ao autor. Assim sendo, Pessoa não só deu estilos diferentes para cada um destes heterônimos, como até lhes deu uma data de nascimento e características físicas.
     


Almada Negreiros


      Caieiro era natural de Lisboa, morador do centro. Nascido em 16/04/1889, de signo Virgem; sua altura era mediana, sua pele branca e pálida, de olhos azuis. Sem profissão, vivia de rendas; não tinha religião e sua instrução era primária. Sendo seu estilo o da poesia primitiva, seu tema preferido era a natureza. Sua obra prima “O Guardador de Rebanhos”.
     Reis era da região norte do Porto. Nascido em 19/09/1887, era de libra. Era um pouco mais baixo que Caieiro; era moreno sem cor definida dos olhos e de cabelos castanhos; sua profissão era de médico e sua religião judia; formou-se no Colégio Jesuíta; seu estilo era o da poesia clássica; seu tema preferido, o Desencanto. Sua principal obra, as “Odes”.
     
Fernando Pessoa, por Almada Negreiros

      Por fim, Álvaro de Campos, de 1,75 metro de altura, nascido em Tavira e vivendo em Algarve, no sul. Sua data de nascimento, 15/10/1890, sendo libriano. Sua pele algo entre branco e moreno; seus olhos sem cor definida e seus cabelos eram pretos lisos. Sua profissão, correspondente comercial. Sem religião, era ateu.  Sua formação, Educação de liceu. Seu estilo, poesia sensacionista, sua obra magna, “Tabacaria”.
      Afora estes heterônimos, Pessoa teria desenvolvido, segundo Cavalcanti, mais de 100 heterônimos (127, no total). Destes, o mais relevante após os três supracitados, sem dúvida alguma, é William Alexander Search (Guilherme Alexandre Busca), surgido nos tempos da África inglesa, que escreve regularmente, quase sempre em inglês. Pessoa considera ter Search uma “incumbência: tudo o que não seja da competência dos outros três” (Caieiro, Reis, Campos).
    


O amigo Sá-Carneiro

      O Ato III “Em que se conta dos seus muitos gostos e ofícios”, tem capítulo reservado para “os sabores de Pessoa”. A culinária tem um lugar sempre secundário em suas obras. Nem ele era um grande apreciador dos comeres. “Comamos, bebamos e amemos (sem nos prender sentimentalmente à comida, à bebida e ao amor, pois isso traria mais tarde elementos de desconforto)”.
     Dentre seus pratos preferidos, Cavalcanti nos relata serem os seguintes: Galo com arroz ao Curry (Uma espécie de molho que aprende a gostar, de origem africana). O autor do livro se preocupa até em citar as receitas destes pratos! Em família, o cardápio seria mais variado: açorda seca só com pão, bolinhos de bacalhau, cordeiradas com batatas, cozidos à portuguesa, creme de leite, fatias de carne recheadas, feijão branco, filés de peixe, lombo de porco. E ainda rodelas de chouriço e guarnições com cenoura, vagem e outros legumes.
      


Fernando Pessoa aos 30 anos

      O livro fala ainda do Bolo-Rei, o bife à Jansen, ovos estrelados com queijo, ensopado de camarão, caldo verde, açorda de camarão e o seu prato favorito: Dobradinha à moda do Porto que, diga-se de passagem, é bem diferente da nossa.
      A seguir, são citados os lugares onde Fernando Pessoa morou: Largo de São Carlos, Rua de São Marçal, Rua Coelho da Rocha; em Durban, Hotel Bay View, em Musgrave Road, em Tersilian House, Ridge Road, West Street; de volta a Portugal, Rua Pedrouços, Travessa da Rua Direita, Rua da Palha e tantos mais, até a Rua Coelho da Rocha, 16, primeiro andar direito, de março de 1920 até sua morte, em novembro de 1935.


     Depois das residências, partimos para seus ofícios. “Aproveitar o tempo! O trabalho honesto e superior... Mas é tão difícil ser honesto ou superior!” Pessoa trabalhou como tradutor, correspondente comercial (em mais de 20 escritórios diferentes)se aventurou como micro empresário, fundando até uma tipografia e atuou ainda com publicidade.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Fernando Pessoa – Uma Quase Autobiografia (1ª Parte)

     No final do ano passado finalmente concluí a leitura do livro Fernando Pessoa, uma Quase Autobiografia, do escritor pernambucano, José Paulo Cavalcanti Filho, Editora Record, 4ª Edição, 2011.  A vida, os amores, os ofícios e, é claro, os inúmeros heterônimos do poeta português – segundo  o autor passam de 100! – recheiam as 734 páginas do escritor, advogado e ex-ministro de Recife. A obra se divide em quatro atos e trinta e quatro capítulos.
     Logo nos primeiros capítulos, o livro trata das origens de Pessoa, pincelando acerca de seus parentes mais próximos, como sua mãe, com quem mantinha forte ligação, seu pai, morto prematuramente aos 43 anos por conta de uma tuberculose, e sua avó paterna, dona Dionísia, que morreu louca.

    
      Em sequência, o livro trata do segundo casamento da mãe, ainda jovem, com o Comandante da Marinha e Capitão do Porto Lourenço Marques, João Miguel dos Santos Rosa; Pessoa teria forte ligação com o cunhado de sua mãe, o General Henrique Rosa, que “passava anos inteiros sem sair da cama, rodeado só por livros e garrafas.”.
     Logo após o segundo casamento da mãe, Fernando Pessoa parte para a África do Sul com toda a família, motivados pelo serviço de seu padrasto. No continente africano sua mãe teria mais três filhos: Henriqueta Madalena, a Teca; Luiz Miguel, o Lhi e João Maria, o Mimi, que odiava o apelido.
      Contando 11 anos de idade, Pessoa é matriculado na escola Durban High School  - uma escola só para crianças brancas do sexo masculino. Nesta escola se destaca, recebendo até premiações, sempre com as melhores notas.
       Após 9 anos em terras sul-africanas, Fernando Pessoa, então com seus 17 anos, decide voltar à sua querida  terra natal, Lisboa. Pouco tempo depois matricula-se no Curso Superior de Letras da Universidade de Lisboa – curso que jamais concluiria.
      

      No capítulo subsequente, o autor destrincha uma pouco mais da figura de Fernando Pessoa “um cavaleiro de triste figura”; recua um pouco mais em suas origens e nos apresenta um Pessoa de origens fidalgo-judaicas; um homem discreto: “Não faço visitas, nem ando em sociedade nenhuma – nem de salas, nem de cafés”. Possui o corpo débil do pai, os olhos míopes - usava óculos para quem tinha 3 graus de miopia, quando na verdade tinha exagerados 12 graus! Fernando pessoa ainda tinha o hábito de ir todos os dias à barbearia, pois como atesta o primo “Desde sempre e até morrer nunca se barbeou a si próprio”. Cavalcante ainda nos fala de sua elegância no trajar, a sua insônia permanente e de sues livros preferidos.
     

       Fernando pessoa, fumava em todos os lugares – sem tragar; e tinha mania por colecionar coisas, principalmente selos.  Adorava ouvir músicas após o jantar: “Só estou bem quando ouço música.” Beethoven, Chopin, Liszt, Rimsky-Korsakov, Verdi e Wagner eram seus preferidos.
      Em 1919 surge sua única namorada, Ophélia Maria Queiroz,  namoro que só começa em janeiro do ano seguinte, após Pessoa se declarar à moçoila, 12 anos mais jovem: “Oh, querida Ophélia! Meço mal os meus versos; careço de arte para medir os meus suspiros; mas amo-te em extremo, acredita!”     Contudo, o romance não dura mais que seis meses; neste ínterim, sua mãe volta da África com seus irmãos, e viúva novamente. Isto ainda em 1920. Em setembro de 1929 reata o namoro com Ophélia, só que desta vez dura um pouco mais, até final do ano de 1930.



(Continua...)

sábado, 8 de março de 2014

Bem Aventurada a Mulher

      Bem aventurada a mulher que cuida do próprio perfil interior e exterior, porque a harmonia da pessoa faz mais bela a convivência humana. 
     Bem aventurada a mulher que, ao lado do homem, exercita a própria insubstituível responsabilidade na família, na sociedade, na história e no universo inteiro. 
     Bem aventurada a mulher chamada a transmitir e a guardar a vida de maneira humilde e grande.



     Bem aventurada quando nela e ao redor dela acolhe faz crescer e protege a vida. 
     Bem aventurada a mulher que põe a inteligência, a sensibilidade e a cultura a serviço dela, onde ela venha a ser diminuída ou deturpada. 
   Bem aventurada a mulher que se empenha em promover um mundo mais justo e mais humano. 
   Bem aventurada a mulher que, em seu caminho, encontra Cristo: escuta-O, acolhe-O, segue-O, como tantas mulheres do evangelho, e se deixa iluminar por Ele na opção de vida. 
   Bem aventurada a mulher que, dia após dia, com pequenos gestos, com palavras e atenções que nascem do coração, traça sendas de esperança para a humanidade.


sexta-feira, 7 de março de 2014

A Cortina

      Mês passado li o livro Maria da Vila das Formigas, que narrava a história de Kitahara Satoko, uma jovem japonesa do pós-guerra que se converte ao catolicismo e auxilia várias crianças numa vila no centro de Tóquio, onde habitavam famílias paupérrimas que coletavam materiais recicláveis para sobreviver.
     O trecho abaixo narra o diálogo entre dois trapeiros moradores da vila, “Papai” e O “Professor”, que eram os responsáveis pela local. Na conversa, os dois decidiam pela permanência da senhorita Kitahara na Vila das Formigas, quando o “Professor” faz uma interessante metáfora da morte com o fechar da “cortina”:


     “O ‘Professor’ começou dizendo:__Compreendo muito bem o desejo de “Papai” de reter para sempre a senhorita Kitahara na Vila das Formigas. Eu, porém, acho que o mais importante para um homem é a ‘cortina’. Falava com ímpeto marcando as palavras. __Quando moço sempre pensei que haveria de me dedicar a algo útil. Mas de um tempo para cá, estou pensando que os meus desejos de jovem deram errado. Quer seja rei ou milionário, tanto quanto possa ter sido feliz na terra, o homem acaba morrendo. Por isso, temendo a morte, todos, desejando ser felizes, vivem no terror e para esquecer o medo, se entregam ao álcool, procuram prazeres ilícitos, distrações, alucinações. O homem, por mais rico que seja, ocupe a posição que ocupar, não é feliz. Se um homem quer ser feliz de verdade, é preciso que não tenha medo da morte. Por isso, além de pensar em levar uma vida que tenha alguma finalidade temporal, é bom viver uma vida que conduza a uma morte feliz, a uma morte que, realmente, tenha uma finalidade. Noutras palavras é muito importante para o homem pensar como morrer. Por isso, considero mais importante para o homem a ‘cortina’, o fim do drama. Portanto eu nada faço, para impedir que a senhorita Kitahara desapareça da Vila das Formigas. Jesus disse que não existe maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos. Mas eu acho que ajudar seu próprio amigo mais amado a concluir a beleza de sua vida, um ato de amor maior ainda.”

Maria da Vila das Formigas, Matsui Toru, Ed. Cidade Nova – 1980 p. 111.




Kitahara Satoko veio a falecer no dia 23 de janeiro vítima de tuberculose, aos 29 anos de idade sendo que, nove deles (após sua conversão), dedicados às crianças da Vila das Formigas. 


Paradoxo

  Revirando papéis antigos, encontrei este poema de um grande amigo, Wilson José, que lecionava Filosofia na mesma  época em que eu lecionava História

. A poesia, de 1999, era uma ode ao Brasil que estava prestes a completar 500 anos!


PARADOXO
Ao 500 anos de país chamado Brasil

Parte de mim é imenso sertão,
Outra parte grande oceano.
Minha fome é interrogação,
Metade de mim, grito profano.

Sou duas faces de um rosto
Que hora preza ser, outra o ter.
Uma face é miséria, desgosto,
Outra, consumo moda, prazer.

Fruto de enlatada cultura,
Sou filho preza o ser, outra o ter.
Sou mãe-pátria sempre à procura
do culpado desta sorte atroz.

Sou aquela prostituta jovem
Que abre as pernas e mostra as tetas
a qualquer um que ao seu encontro vem
sugar do peito as últimas gotas.

Metade de mim adormece
Embriagada em esplêndido berço.
Metade outra, ovelha sem messe,
peleja em continhas do terço.

Sou gigante da natureza,
Rico, forte, belo, tropical.
Mas sou cara feia surpresa
ante o sistema injusto e mau.

Ipiranga! Não ouvi o seu brado!
E alguns cantam-no retumbante!
Morreu à velha utopia abraçado
sem liberdade, flor pujante!

Parte de mim é doce euforia
quando do futebol se versa.
Parte outra, angústia em demasia
se na rua um mendigo atravessa.

Parte mim, signo de tudo,
outra parte, sinal de nada!
Sou assim, vestido ou desnudo,
peregrino em longa jornada!

Meu nome! Ainda queres ouvi-lo?
BRASIL TERR’ADORADA GENTIL!          
Poesia em versos, sem estilo!
Incógnita que sempre existiu!


Wilson José, Belo Horizonte, 22/02/1999

terça-feira, 4 de março de 2014

Oração

Senhor! 



Venho te pedir pelo ser humano!


Venho te pedir por aqueles que ainda não descobriram a nossa missão na Terra........


Venho te pedir por aqueles que nos maltratam, e que não sabem que estão jogando fora a oportunidade de exercitar conosco o carinho de que mais tarde irão precisar........


Venho te pedir por aqueles que nos abandonam nas ruas, em abrigos, em latas de lixo...


Eles não sabem que estão plantando a semente do amanhã, e que mais tarde também irão sofrer o abandono na mão dos filhos, e que também irão amargurar em asílos.....


Venho te pedir por aqueles que nos acorrentam, nos amarram, sem comida e sem água. Não sabem que um dia estarão sedentos de amor, de carinho. 


Venho te pedir, Senhor, por todos nós, seres de 2 ou 4 patas, que habitam este espaço terrestre. 


Peço Senhor, que os humanos, possam finalmente aprender a grande lição que tentamos incansavelmente ensinar a todos eles: a do amor incondicional. 

O Amor verdadeiro.

Olhe por nós!

Amém´