Não menos importante, já no Ato IV,
Cavalcanti dedica um capítulo inteiro ao hábito etílico do poeta lusitano, “A espantosa lucidez da bebida.” Começa o
capítulo com o subtítulo: Um irresistível
gosto pelo álcool; e já na primeira linha escreve: “É como se houvessem nascido um para o outro”. Ao chegar em casa,
por vezes se fingia de bêbado para irritar a irmã Teca. O poeta português tinha
predileção pelos vinhos de Lisboa: alguns brancos ou tintos de mesa, preparado
a partir da uva moscatel. De acordo com carta de Ophélia, ele apreciava também
o vinho de madeira. No entanto, seu vinho preferido era outro: as “garrafas daquele vinho do Porto que ninguém consegue comprar”.
Fernando Pessoa aos 40 anos de idade
Aprecia ainda o absinto ( que logo larga
devido aos problemas gástricos que lhe infringia) e o conhaque, mais conhecido
em Portugal como Brandy; porém,
preferia o bagaço, ou bagaceira, uma espécie de aguardente de
uva. “Ah, bebe! A vida não é boa ou má”. A
poesia e o álcool, nele, sempre andaram juntos.
Todas as manhãs, ainda em jejum, tomava um
cálice de vinho no caminho do trabalho; ao entardecer, retornando do serviço,
tomava um cálice de conhaque; e em seguida, enchia uma garrafinha preta com
aguardente para a noite. Alguns de sues amigos no trabalho, diziam que vez ou
outra Pessoa se levantava no meio do expediente para tomar uma dose de aguardente.
Todos os dias, durante o almoço, sempre tomava uma garrafa de vinho.
Tomando um cálice de vinho
Todo este abuso com as bebidas teria um
efeito drástico em Pessoa; a começar pelo delirium
tremens, desencadeando num processo que o levaria à morte prematura em
1935, aos 47 anos de idade, sem o devido reconhecimento por parte de seus
compatriotas. A causa mortis teria sido provavelmente uma cirrose hepática ou uma
pancreatite.
É levado ao hospital São Luis dos
Franceses, onde falece numa tarde de sábado. As freiras do hospital ligam para
Ophélia Queiroz, cientes da relação dela com o poeta. Na quarto onde jazia
Pessoa, as freiras deixam Ophélia a sós com o ilustre defunto. Ophélia põe a
destra em sua cabeça e estremece; coloca a mão direita do morto entre as suas e
sussurra palavras em seu ouvido inerte. Depois, para que ninguém soubesse dessa
despedida, fala que recebeu a notícia através de um sobrinho, Carlos Queiroz.
Segundo ela, então, “levei a mão à
cabeça, dei um grito, chorei muito, por muito tempo”.
O corpo de Fernando Pessoa foi velado na Capela
do Cemitério dos Prazeres, no domingo, no dia primeiro de dezembro. Na manhã
seguinte, às 11 horas o cortejo fúnebre parte para levar o corpo do poeta para
o “túmulo raso do Cemitério dos
Prazeres”. Vários amigos acompanharam o sepultamento.
Sua última foto, aos 47 anos.
Em 1985 os restos mortais de Fernando
Antonio Nogueira Pessoa, 50 anos após sua morte, foram transferidos para o
Panteão Nacional dos Jerônimos, cumprindo-se o que falara Jorge de Sena em
1954: “O país se lembra de lhe dever um
túmulo ao lado dos grandes da pátria”.
Assim, no claustro desse Mosteiro de Santa
Maria de Belém, aos pés do Tejo, está o solitário túmulo de Pessoa. Em usa
lápide está o epitáfio: Fernando Pessoa,
1888-1935; e em baixo, os versos:
Não basta
abrir a janela
Para ver os
campos e o rio.
Não é bastante
não ser cego
Para ver as
árvores e flores.
20/04/1919
Alberto Caieiro
Não: Não quero
nada.
Já disse que
não quero nada.
Não me venham
com conclusões!
A única
conclusão é morrer.
1923 Álvaro de
Campos
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
14/02/1933 Ricardo Reis.
Amigos leitores; abaixo deixo dois sites que fazem uma crítica ao livro de Cavalcanti, para quem quiser saber mais:
http://ipsilon.publico.pt/livros/critica.aspx?id=305399
//www.blogger.com/blogger.g?blogID=5542520736526928833#editor/target=post;postID=7483741951312829143;onPublishedMenu=allposts;onClosedMenu=allposts;postNum=0;src=link